Por meio de diferentes estratégias terapêuticas, a medicina de reabilitação trata uma ampla variedade de problemas clínicos que geram algum grau de incapacidade – de síndromes dolorosas, como enxaqueca, lombalgia e fibromialgia, aos casos mais complexos, como recuperação após tratamento do câncer e sequelas neurológicas de acidente vascular cerebral. O objetivo do processo reabilitacional é capacitar a pessoa lesionada a retornar à funcionalidade biopsicossocial mais próxima possível daquela anterior à lesão, no período mais breve possível, respeitando as características intrínsecas da lesão e as particularidades do indivíduo. Com isso, ele pode melhorar as suas funções, diminuir o uso de medicamentos (com consequente redução dos efeitos adversos), reduzir os sintomas de doenças e ganhar qualidade de vida. Promover a reabilitação de um paciente é o mesmo que restabelecer sua qualidade de vida. É com esse olhar de reabilitação que avalio cada caso que chega ao meu consultório. 

Preocupo-me não apenas com a doença em si, mas com como ela afeta o indivíduo de modo geral. É uma análise funcional, ampla, para detectar de onde vem o problema, para onde vai e como intervir com segurança.

Quando deparo com uma reabilitação de dor nas costas, por exemplo, não procuro apenas dissipar a dor e fazer um diagnóstico correto na ótica ocidental, mas também entender os mecanismos associados, mecânicos, posturais e emocionais que perpetuam o quadro doloroso. Busco alterações no corpo todo – desalinhamento corporal, encurtamentos musculares na perna, fraqueza no abdome, tensões musculares somatizadas – qualquer sinal que seja a ponta do iceberg, o pedaço de uma história desequilibrada, patológica. O objetivo é quebrar o círculo vicioso de descompensações da melhor forma possível. Aliás, dor (algia) é a principal queixa dos pacientes. Ela é um mecanismo de alerta do corpo e ocorre sempre que um tecido estiver lesado, o que permite uma reação com o intuito de remover o estímulo agressor. Pode ser aguda (repentina, com duração limitada) ou crônica (persistente, durando meses ou anos). Quando crônica, ela pode ser limitante ao extremo, proporcionando sofrimento físico e emocional e atrapalhando consideravelmente a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.

Tratar atletas profissionais e amadores tem suas peculiaridades. A exigência física que recai sobre os primeiros é um diferencial. No profissional, o risco de uma lesão pequena se tornar uma condição grave ou até incapacitante é alto, já que seus horários e calendários de competições rígidos não lhes dão tempo suficiente para priorizar a recuperação. A atuação da medicina do esporte, nesses casos, é fundamental, instituindo protocolos de tratamentos adequados para a promoção de um ciclo completo de reabilitação. Independentemente de o atleta ser profissional ou amador, o propósito de tratar uma lesão por atividade esportiva não é somente o alívio da dor, mas também a restruturação biológica da lesão e sua recuperação funcional. Para tanto, integramos as técnicas de acupuntura aos programas de fisioterapia, exercícios terapêuticos e reeducação dos gestos e técnicas esportivos.

Historicamente, os antigos mestres das artes marciais chinesas também eram especialistas em MTC. Para eles, o Qi era a essência das artes da guerra. Pontos especiais de acupuntura já eram utilizados há mais de 3 mil anos antes de longos combates marciais para aumentar a resistência dos lutadores. As agulhas também eram ferramentas para o tratamento de lesões decorrentes dessas práticas e a tonificação energética. Isso nos mostra que a acupuntura faz parte da medicina do esporte desde o início da civilização chinesa. Hoje, estudos científicos e evidências clínicas nos dão aval para utilizar a técnica milenar chinesa antes, durante e depois dos períodos de treinamento e competição, em diferentes situações: alívio de dores musculares, prevenção e tratamento da maioria das lesões desportivas, recuperação física, potencialização do desempenho e redução de estresse e ansiedade. Entre as principais indicações estão lesões musculares e articulares, tendinites, entorses, distensões e contusões. Nesses casos, o principal objetivo terapêutico é reduzir a dor, o edema (inchaço) e o processo inflamatório, atuando lado a lado com os procedimentos de fisioterapia e posterior recondicionamento do gesto esportivo.