FAQ

A acupuntura cura de verdade?
A acupuntura visa tratar e prevenir doenças por meio da aplicação de agulhas, estimulando a homeostase, ou seja, a tendência natural do organismo de autorregular-se e reequilibrar- se para uma condição geral de harmonia física, mental, emocional e energética. É indicada na prevenção e no tratamento de diversas patologias e apresenta, segundo a visão da medicina ocidental, efeito analgésico, anti-inflamatório e relaxante muscular, além de melhorar a imunidade. Também tem efeito ansiolítico, antidepressivo leve e cicatrizante, entre outras ações, atuando nos mecanismos intrínsecos de autorregulação do organismo. A medicina oriental considera o conjunto de ações da acupuntura na esfera integral e visa restabelecer a harmonia do indivíduo como um todo pela regulação do Qi do organismo. Pioneiros na descoberta de que o agulhamento de distintas partes do corpo provoca reações e influencia várias funções orgânicas, os chineses desenvolveram explicações para isso conforme sua cultura, filosofia e conhecimento do organismo humano naquela época. Ao longo dos séculos, foram se estabelecendo parâmetros técnicos para que a estimulação por acupuntura fosse a mais eficiente possível, muitas vezes baseados em tentativa e erro, e criteriosa observação clínica e anotação e compilação criteriosa desses dados.
 
Nos últimos 50 anos, com a integração da medicina ocidental à acupuntura, a técnica foi aperfeiçoada e potencializada, e, agora, integrada ao arsenal médico ocidental, tem resultados cada vez mais expressivos. Com isso em mente, entendemos a acupuntura como parte de uma abordagem biopsicossocial, ou seja, da correlação entre questões biológicas (a doença em si) e psicológicas e o entorno social.
 
Nesse contexto, os aspectos físicos, mentais, emocionais e relacionais (do indivíduo consigo mesmo e com seu hábitat físico e social) são valorizados de modo equânime, pois cada umas dessas facetas influencia a outra. Lembremos ainda que a acupuntura está historicamente inserida em um contexto que valoriza a prevenção das doenças. Na visão dos imperadores chineses, o melhor médico não era aquele que curava mais pessoas, mas aquele que prevenia a doença. Quanto mais cedo diagnosticarmos os padrões de desarmonia e atuarmos adequadamente em cada caso, maior a possibilidade de restabelecermos as condições de saúde. Inúmeros sinais e sintomas iniciais, leves e esparsos, podem ser o prelúdio de uma doença que evoluirá se não for abordada de forma correta. Buscamos assim, em condições ideais, usar as técnicas de acupuntura de modo integrativo e precoce. Quando há desequilíbrio em dois ou mais elementos biopsicossociais, tratar apenas um deles dificilmente restituirá o equilíbrio perdido. Almejamos, portanto, mobilizar todos esses recursos internos para que o paciente se autocure.
Há comprovação científica dos benefícios da acupuntura?

No Brasil, a acupuntura foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 1995 e, três anos mais tarde, pela Associação Médica Brasileira (AMB). Além disso, desde 1979, é indicada como “medicina complementar”, tendo sua eficácia como tratamento comprovada para mais de 40 doenças pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2003, após décadas de pesquisas em renomadas instituições do mundo, a OMS publicou os resultados no documento

“Acupuncture: review and analysis of reports on controlled clinical trials”, que analisou a eficácia da acupuntura e de outras técnicas em comparação com o tratamento convencional de 147 doenças, sintomas e condições de saúde.

A pesquisa incluiu afecções físicas, distúrbios orgânicos, problemas mentais e psicossomáticos, condições específicas de homens, mulheres e crianças e problemas oriundos do tratamento de câncer, cirurgias e dependência química. Segundo a OMS, a acupuntura tem caráter medicinal e já há efeitos comprovados pelos padrões científicos ocidentais. O órgão vem estimulando o uso da medicina tradicional/complementar nos sistemas de saúde de forma integrada às técnicas modernas da medicina ocidental. No documento “Estratégia da OMS sobre medicina tradicional, 2002-2005”, o órgão preconiza o desenvolvimento de políticas observando os requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso.  Estudos demonstram que a acupuntura influencia a fisiologia humana e animal em diversos níveis, incluindo Sistema Nervoso Central, Sistema Nervoso Periférico, Sistema Nervoso Autonômico, Sistema Imunológico, Sistema Neuroendócrino, Respiratório e Cardiovascular, além de reações adaptativas benéficas nos locais de aplicação da técnica. Em humanos, em vários estudos, o grupo controle que recebeu a acupuntura sham (ou falsa acupuntura, em que a agulha é inserida superficialmente, não é inserida ou o é em locais em que não há um acuponto) também apresentou pequenos efeitos terapêuticos (o chamado “efeito placebo”). Porém, quem recebeu tratamento de acupuntura verdadeira apresentou melhores resultados que os grupos controle e de tratamento convencional. Vale ressaltar que a tradição alopática do ensaio clínico aleatório, duplo-cego e controlado com placebo é muito difícil de ser aplicada na acupuntura. O problema começa com a dificuldade de criar condições e definir o que é placebo para a acupuntura (muitos alegam que agulha perfurando a pele já significaria acupuntura, independentemente da profundidade e do local de aplicação). Além disso, existem limitações técnicas para a padronização da acupuntura segundo as doenças descritas pela medicina ocidental. Por exemplo, um paciente com diagnóstico ocidental de Diabetes mellitus tipo 2 pode ter diferentes diagnósticos segundo a MTC. Isso compromete a padronização da escolha dos acupontos que serão utilizados e a consequente análise dos resultados.

A acupuntura serve para todos os problemas e para todas as pessoas?

Não, e isso não é exclusivo do tratamento por acupuntura. Não existe nenhum procedimento médico ou medicação que sirva para todos os problemas ou pessoas. Ao avaliar um paciente, levamos em conta muitos fatores para concluir se o caso em questão pode ou não ser abordado com o uso da acupuntura. Caso haja indicação, evoluímos nesse raciocínio para definir se o emprego da acupuntura será tratamento prioritário e único ou se a utilizaremos como tratamento coadjuvante e complementar a outras intervenções médicas.

O primeiro passo para essa cadeia de decisões é a correta elucidação do diagnóstico médico. Para tanto, utilizamos os recursos diagnósticos disponíveis, inclusive encaminhando o paciente a outros especialistas, se necessário. O objetivo é ter clareza diagnóstica e avaliar com bom senso o leque de possibilidades terapêuticas para cada caso. Concomitante a isso, por meio de propedêutica e exame físico específico, procura-se discernir as características do quadro clínico do paciente segundo a visão da MTC. Assim, delineamos o panorama integral do paciente. 

Há contraindicação para a acupuntura?

Sim. Entretanto, a vasta maioria das contraindicações é relativa. A primeira contraindicação é iniciar qualquer tratamento sem ter um diagnóstico médico ocidental definido. Com todos os recursos diagnósticos atuais, é inconcebível não diagnosticar a causa etiológica dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente antes de propor qualquer tipo de tratamento, inclusive acupuntura. A falta de um diagnóstico correto desperdiça tempo e dinheiro. Por exemplo: uma dor crônica na coluna dorsal sem o devido diagnóstico etiológico pode derivar, na maioria dos casos, de uma simples musculatura inflamada e tensa aliada à má postura e sedentarismo.

Porém, também pode se tratar, entre inúmeras outras causas, de uma dor de causa infecciosa, como mal de Pott (tuberculose óssea da coluna) em estágio inicial. O tratamento exigirá uso de antibióticos por um longo período, colete de sustentação e exercícios fisioterápicos. Trata-se de um caso típico de iatrogenia por falta de diagnóstico. A acupuntura, como tratamento único nesse caso, só mascararia os sintomas e postergaria o correto tratamento de base. Porém, uma vez feito o diagnóstico correto e instaladas as medidas terapêuticas adequadas, a acupuntura pode ser usada como tratamento coadjuvante, contribuindo para o alívio sintomatológico do quadro doloroso e da contratura muscular de defesa (reflexa) ao processo infecioso ósseo, além de estimular a homeostase multidimensional do paciente.

Evitamos, como protocolo de segurança, utilizar as técnicas de acupuntura em pacientes com alterações significativas do sistema imunológico. Indivíduos submetidos à quimioterapia mielossupressiva, por exemplo, devem evitar a técnica até que sejam restabelecidos níveis seguros de imunidade. O mesmo vale para pacientes com infecções sistêmicas graves e sepse. Naqueles com marca-passo ou desfibriladores cardíacos implantáveis é contraindicado o uso de eletroacupuntura pelo risco de interferência nesses aparelhos. Avaliamos com muito critério, como contraindicação parcial, pesando risco e benefícios, o uso da acupuntura em pacientes suscetíveis ao desenvolvimento de endocardite. Nunca proponho acupuntura a eles sem antes discutir o caso com seu cardiologista e seguir as diretrizes de segurança daquele especialista. Em pacientes com distúrbios de coagulação e uso de anticoagulantes, sempre tomamos cuidado redobrado e adaptamos os procedimentos de acupuntura. Optamos, assim, por uma aplicação “leve”, com escolha de agulhas mais finas e menores, manipulação suave e uso de menos agulhas. Lembremos que as agulhas usadas na acupuntura são bem menos espessas que aquelas rotineiramente utilizadas em punção venosa e outros procedimentos a que muito desses pacientes são submetidos. Em grávidas, a contraindicação usual é evitar o uso de eletroacupuntura.

Além disso, também respeitamos a contraindicação de punctura de acupontos citados em textos clássicos da técnica. Hoje, muitos autores questionam a necessidade de evitar a maioria dos acupontos contraindicados ancestralmente. Particularmente, minha postura é de continuar não utilizando esses pontos durante a gestação. Existem ainda contraindicações para o uso localizado de acupuntura em regiões do corpo acometidas por infecção local, lesões e ulcerações na pele, além de tumorações cuja origem desconhecemos. A punctura nesses locais pode levar a uma piora do quadro e não há sentido em correr riscos desnecessários. É fundamental, também, que as técnicas de punctura, como profundidade, espessura e número de agulhas, além da intensidade de manipulação da agulha, sejam realizadas corretamente nas diferentes regiões do corpo. 

Como é uma primeira sessão de acupuntura?

Assim como em qualquer outra consulta, a primeira sessão de acupuntura é o momento de realizar o diagnóstico, identificar o quadro clínico funcional do paciente e elaborar uma linha de tratamento. É fundamental que o profissional avalie o caso de maneira holística, ou seja, pensando em todos os aspectos biopsicossociais, a fim de identificar se a acupuntura, por si só, poderá tratar a patologia ou se será preciso recomendar outros tratamentos. Quase sempre, após o diagnóstico preciso da patologia de acordo com a ótica ocidental, o médico faz uma anamnese dirigida segundo a MTC, procurando explorar pontos que elucidem o padrão de desarmonia e caracterizem o paciente do ponto de vista energético. Analisam-se, então, o pulso e a língua, que fornecem informações preciosas sobre a situação do organismo.

A palpação em pontos específicos do tórax e do abdome também oferecem informações sobre o equilíbrio energético dos meridianos de acupuntura. O médico aproveita para sanar todas as dúvidas do paciente e, sobretudo, para entender os medos que este carrega. A primeira sessão pode incluir ou não a primeira aplicação de agulhas, já que não é recomendável iniciar um tratamento enquanto o diagnóstico não for definido. Além isso, é fundamental que o paciente tenha compreendido bem o que esperar do tratamento. Particularmente, procuro primeiro explicar a visão ocidental e, na sequência, esclarecer como isso é entendido na visão oriental. Acredito que, dessa forma, o paciente consegue visualizar melhor a sua patologia e compreender como a acupuntura atuará em seu organismo. 

Como a acupuntura alivia a dor?

A acupuntura promove uma modulação em vários sistemas do nosso organismo, especialmente os sistemas Nervoso Central e Periférico e Endócrino, com efeitos sobre neurotransmissores e neuromoduladores, estimulando a homeostase do organismo. Essas reações de equilíbrio orgânico (homeostase) são geneticamente programadas e, pela imensa complexidade de todas as variáveis envolvidas, precisaremos ainda trilhar um longo caminho para entender com clareza a interação entre todos os elementos envolvidos no processo.

Entretanto, o razoável corpo de investigação atual consegue, ao menos, esclarecer em linhas gerais como a acupuntura produz o alívio da dor. Vale saber que a maioria dos trabalhos experimentais foi feita em animais e visou ao alívio da dor em curto prazo. Em suma, as pesquisas realizadas até agora foram suficientes para levar a acupuntura do “mundo místico” ao patamar de “ciência séria”.

Acupuntura dói?

As aplicações costumam ser muito bem toleradas. A maioria das agulhas de acupuntura é feita de aço inoxidável com espessura finíssima. Atualmente, encontramos agulhas com uma variedade muito grande de comprimento (entre 20 mm e 60 mm) e espessura (0,12 mm e 0,30 mm). A sensação costuma ser de leve pressão e, em alguns casos, sente-se um rápido “choquinho”. A maioria dos pacientes, após algumas sessões, fica completamente relaxada e imersa no ambiente terapêutico da acupuntura, relatando sensações de calma e vitalidade. Alguns inclusive afirmam que a sensação é prazerosa e lhes traz relaxamento imediato.

Entretanto, há pontos e técnicas em que é necessário fazer uma estimulação mais intensa e em planos mais profundos, provocando uma discreta sensação dolorosa irradiada (sensação discreta localizada de câimbra e choque).

Quanto tempo dura a aplicação da agulha?

Normalmente, as sessões levam de 30 a 40 minutos e, dependendo do caso, até um pouco mais. O processo é realizado em um ambiente sereno e leva em consideração, além do tipo da patologia que está sendo tratada, os traços psicológicos do paciente. É fundamental que este relaxe e entre em ressonância com o procedimento, pois a aplicação de agulhas procura evocar o reequilíbrio orgânico e o realinhamento energético (nos seus componentes físico, emocional, mental e metabólico).

Em uma sessão de 30 a 40 minutos, pode-se, dependendo do caso, inserir estímulos mais curtos e menos duradouros em outras regiões do corpo para complementar a técnica principal. Em cidades como São Paulo, onde o trânsito normalmente é um fator de estresse, precisamos criar um ambiente terapêutico de acolhimento e tranquilidade para contrastar com a agitação de quem vem lutando no trânsito selvagem.

Há diferentes tipos de agulha?

Sim. Existem agulhas de diversos tamanhos e modelos, escolhidas de acordo com a patologia a ser tratada. A literatura clássica descreve nove tipos de agulha, que vão da Chan (nº 1), “agulha com ponta de flecha”, destinada às picadas superficiais, à Huo (nº 9), “agulha de fogo”, bastante longa e usada, por exemplo, para tratar alguns casos de artrite. Esses nove tipos ainda são utilizados, sobretudo na China. Porém, mundialmente, o tipo mais usado é a agulha filiforme, que tem enorme variedade de espessuras e comprimentos. Como o nome sugere, essa agulha parece um fino fio de metal, com dimensões que variam de 0,12 mm a 0,30 mm de espessura e de 2,5 cm a 6 cm de comprimento. Elas são produzidas com aço já esterilizado de fábrica e, de acordo com a legislação brasileira, devem ser descartáveis. Durante uma sessão regular, são inseridas – na maioria dos casos – de oito a 15 agulhas através da pele, a uma profundidade que varia de 5 mm a alguns centímetros, dependendo do ponto.

Em que pontos as agulhas são aplicadas?

A acupuntura se baseia na técnica de estimular pontos específicos para melhorar o fluxo de energia (o Qi). Segundo a MTC, esses pontos não são aleatórios e estão distribuídos ao longo dos meridianos. Existem também muitos outros pontos, denominados pontos-extra, fora do trajeto dos meridianos. A denominação chinesa para os pontos de acupuntura é “transporte” e “orifício”, referindo-se aos locais onde o Chi pode ser acessado. Sabemos hoje que os pontos de acupuntura têm atividade bioelétrica peculiar em relação aos tecidos à sua volta. Apresentam potencial elétrico distinto, com aumento da condutibilidade e diminuição da resistência elétrica.

Correspondem, em grande parte, aos chamados pontos motores musculares, nos quais a transmissão elétrica é facilitada. Podem tornar-se sensibilizados ou dolorosos em consequência de processos patológicos que ocorrem distante dali ou de processos localizados na região em que se encontram. Um ponto de acupuntura geralmente tem um feixe neurovascular próprio, que o distingue do tecido circundante, e costuma ser bastante sensível à palpação.

Segundo a MTC, há cerca de 365 pontos de acupuntura (ou acupontos) e mais de 2 mil extras. A ideia é que, com a inserção das agulhas nesses locais, a intercomunicação biológica seja facilitada, bem como o estímulo para o equilíbrio homeostático do organismo.

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